21 de mar. de 2012

Almoço em família

Oi gente... Faz um tempinho que não posto depois dos comentários que eu recebi da divíssima Cleidyane Kate Angel (Clique no divíssimo nome para conhecer o divíssimo blog), eu fiquei me sentindo cruel com este fato. Então estou postando algo que eu iria mandar para um concurso, mas que eu perdi o prazo. Espero que gostem.
Obs.: - Minha família incluída nesta crônica: Nada escrito aqui tem a intenção de magoar (se é que magoa), humilhar ou expor. Caso se sintam assim só me deixem um comentário e eu juro que retiro, ok?
-Kate, muuuuuuitíssimo obrigada pelos seus comentários nos meus últimos textos, realmente me deixou nas nuvens saber que você me colocou no seu mural. Sua consideração é incrível para mim. Espero que você também tenha muito sucesso nessa empreitada que ambas estamos empreendendo.
-Sem mais delongas, aqui vai o dito cujo:


-Prometoque esse é o meu último cigarro!
            Disse a tia Helena apagando o toco,jogando-o no chão e pisando nele. Todos bateram palmas e gritaramencorajando-a. Sorri, animada com a perspectiva.
            -Eu prometo que essa é a minhaúltima cerveja! – Disse a tia Ivete, com a voz já arrastada por já ter passadoum pouco do limite. – De todas.
            Acrescentou. Todos riram, mas tambémencorajaram. Eu dei pulinhos de alegria, pensando na festa que tudo setornaria.
            -Eu prometo que esse ano, vou fazerdieta e emagrecer 20 quilos!
            A prima Jéssica disse sorrindo paratodos. Todos aplaudiram, e gritaram também, e eu, inocente na minha poucaidade, me juntei a eles. Os fogos começaram, anunciando o ano novo.  Naquele momento as promessas estavam valendo.Do meu lugar na roda da minha família, onde avós, avôs, tias, tios, netos,sobrinhos, sobrinhas, filhos, filhas, sobrinhos-netos, primas, primos,agregadas e agregados davam as mãos, no meio do estacionamento do condomínio doapartamento da minha avó, com os olhos admirados brilhando sob os fogos dediversas cores, eu imaginei que aquele ano só traria coisas incríveis para afamília toda.
Quandofomos todos dormir apertados nos colchões espalhados pela casa, já era muitodepois da meia noite. Roncos de todos os tipos saiam de todas as bocas povoandoa sala, mas estava tão cansada que nem notei.
            No dia seguinte, ninguém acordouantes das 11 horas, apenas todas as tias, que foram para a cozinha logo cedo,ligando fornos, abrindo e fechando gavetas, cortando e picotando carne, legumese salada, misturando coisas, e fazendo um barulho infernal. Apesar disso,quando fui acordada pelos sons que vinham da cozinha, nem pensei em me meter porlá para pedir que abaixassem o volume. Tudo o que conseguiria fazer é levar umacolherada de madeira na cabeça e ser vítima de um gritocídio. Deixe-meesclarecer as coisas. Quando uma mulher cozinha para muitas pessoas, seu corpolibera alguma coisa que a deixa nervosa.
Agoraquando várias mulheres com opiniões diferentes cozinham, as mesmas coisas, paratoda uma família de dez irmãos, seus corpos liberam duas vezes mais essasubstância, que eleva a irritação de uma mulher, criando a ilusão de uma“segunda TPM”, e faz com que qualquer forasteiro que se meta na cozinha, servítima de um gritocídio, que não é nada mais nada menos do que um homicídiocausado por irritação extrema.
            Então, sem vontade de voltar adormir, e sem vontade de ser gritossassinada, assisti aos desenhos na televisão,pairando acima dos colchões onde muitos ainda dormiam, e espremida no sofá,onde um dos meus primos dormia, roncando alto.
13horas e o almoço estava servido. Os que não tinham acordado até àquela hora,receberam pontapés, gritos, sacudidelas e acredite se quiser, até copos deágua, e cubos de gelo no pijama. A mesa foi posta depois que todos estavamsentados aos seus lugares, esfregando os rostos de sono e reclamando da vida. Amaioria dos meus primos mais velhos estava com uma baita ressaca, não que eusoubesse o que era aquilo na época, e as crianças da família faziam um rebuliçoacerca da mosca que voava acima da mesa. Os pratos foram chegando, quentes efumegando da cozinha da minha avó, que sentavam na ponta de mesa, lambendo oslábios enrugados.
            Grandes panelões de arroz e feijãoforam os que chamaram mais a minha atenção, mas não eram tudo. Havia arroz,como vovó dizia, metido a besta, todo enfeitado, com passas, ervilhas, milho,salsicha, passas, manga e tudo o que se pudesse imaginar. Lombo aindaborbulhando do forno chegou logo depois e então não apenas um, mas dois perusrecheados foram pousados na mesa. Notei que algo estava errado. Não havia sinalda tia Ivete, nem da tia Helena e muito menos da Jéssica. Mas como ninguém feznenhuma objeção, não me importei, até porque, mais pratos chegaram.
            Lingüiça, macarrão com almôndegas,ovos cozidos, bacalhau com batata, torta salgada, farofa, maionese, salpicão,strogonoff de carne, frango e camarão, bobó de camarão e até uma sopa especialpara a vovó. Toda aquela comida deixou  um monte de gente desalojada, obrigada a ircomer no sofá. Comi muito naquele almoço, mas honestamente, não me lembro nemda metade. Todos se serviram, comeram, se serviram de novo, comeram e fizeramuma pilha de pratos sujos na pia. As únicas coisas sobreviventes em cima damesa, além de raspas das panelas e potes eram três coxas de peru. Minha mãecolocou em um pote plástico e me entregou dizendo:
            -Faz um favor filha? Encontra a suatia Helena, sua tia Ivete e a sua prima Jéssica, porque elas não comeram nada.Dê uma coxa para cada uma, entendeu?
            Fiz que sim com a cabeça, animadíssimacom a missão, incumbida a mim pela minha mãe. Saltitando fui atrás de umchinelo. Lembrei que os tinha usado para tomar banho antes da virada do ano. Aporta do banheiro estava trancada quando a forcei. Bati na porta, e a voz datia Helena veio lá de dentro.
            -Quem é?
            Essaestava muito fácil! Pensei comigo mesma. Mas porque estava trancada no banheiro a manhã toda?
            -Sou eu tia. Quero pegar uma coisa ete entregar outra.
            Ela destrancou a porta e entrei. O cheirome atingiu e era inegável. Assim que entrei e eu soube. Tinha diante de mim, aprimeira perjura.
            -O que quer me entregar? São essascoxas?
            Não disse nada, perturbada por elater quebrado a promessa de ano novo, logo no nosso primeiro almoço em famíliado ano – e que provavelmente seria o último. Por pura pirraça, não lheentreguei a coxa destinada a ela e nem lhe dirigi palavra alguma. Com o chinelocalçado, fui a caça da minha tia e da sua filha, certa de que onde estivessem,estariam cumprindo as promessas a risca. E foi quando tive a idéia de comer aprimeira coxa de peru. Ora, quando minha cachorrinha fazia algo certo, mamãedava a ela um bifinho para cachorro. Se tia Helena tinha feito algo errado, nãomerecia a coxinha, certo?
            Mesmo estando cheia, empurrei paradentro, acreditando estar fazendo justiça com as minhas pequenas mãozinhas.Perguntei ao porteiro se minha tia e prima tinham saído. Ele me respondeu combom humor que uma não tinha encontrado a outra por cinco minutos. Ambas tinhamido até a esquina, mas minha tia virara na direção do bar e sua filha fora nadireção do mini mercado à duas quadras dali. Pedi que ele abrisse o portão e láfui eu, em direção ao bar na esquina. Na metade da quadra, vi Jéssica voltandocom uma sacola do mercado. Quando o sol bateu na sacola, vi algo brilhar. Outinha roubado alguma prataria, ou tinha em mãos vários pacotes com plásticolaminado. Disso eu entendi com certeza. Quando me viu aproximar, escondeu asacola atrás de si. Pensando um pouco, tive certeza. Estava diante da segundaperjura.
            -Oi linda. Tudo bem? Sua mãe sabeque está aqui fora?
            Fiz que sim e ela logo foi emdireção ao condomínio. Jogou a sacola na caçamba de lixo e quando desapareceuportão adentro, eu espiei lá dentro, recusando-me a acreditar. Dois pacotes daminha bolacha recheada preferida e um daqueles salgadinhos fajutos de milho.Não pude acreditar naquilo. Não sabia o que me deixava mais irritada: Ter puladonosso almoço em família para comer porcarias, quebrado a promessa, ou por nãoter me dado uma bolacha. Olhei para o pote na minha mão com raiva. Jéssicatambém tinha sido má, não merecia sua coxa, assim como a nossa tia.
            Com esforço, coloquei a segunda coxapara dentro e joguei o osso na caçamba. Continuei meu caminho na direção dobar. A tia Ivete iria cumprir a palavra, eu sei que ia. Ela era professora. Aminha professora me dava aula desde o pré e nunca mentia. Ela dizia que mentiraera uma coisa muito feia, e fazia a gente se sentir muito mal consigo mesmo eela estava certa. Se a minha tia era professora, devia ensinar aos alunos delaexatamente a mesma coisa. Então, saltitante e confiante, fui em direção ao bar.Hoje não me surpreende muito ao lembrar que uma terceira lata de cerveja foiesvaziada na hora em que virei a esquina, pousando na mesa ao lado das outrasduas vazias e tombadas.
            Lembro-me de com uma carrancahorrível, engolir a terceira coxinha, jogar o osso longe e com o estomagodilatado e doendo, o coração partido, e a percepção mudada, correr de volta aocondomínio e ficar balançando tristemente no balanço do parquinho, amaldiçoandobaixinho aquele ano, por não mudar tudo na vida dos meus familiares. Não foi naqueleano que tudo se resolveu. As promessas não duraram nem até o típico primeiroalmoço de família do ano – E tipicamente o único – E logo depois as três nemtentaram mais esconder. Mas elas foram refeitas no ano seguinte. Mas naqueleano, eu tinha uma promessa especial, que gritei ao mundo:
            -Eu prometo que a partir de hoje,nunca mais acreditar em promessas de ano novo.
           
Skitter - A Maluca do Blog (Vocês votariam em mim?)
Razz - A Voz da Razão (Realmente não estávamos seguindo você Kate, mas agora estamos. Desculpe o engano)