Superstições
surgem e elas mudam ao redor dos anos. Os seres humanos são criaturas padrões,
ou seja, buscam padronizar as coisas, juntá-las de um jeito que faça sentido,
agrupá-las para poder entendê-las melhor. Por isso que quando acontecia algo
ruim com eles, agregavam à primeira coisa que podia culpar, um gato preto por
exemplo. Ou quem sabe o sal que derrubaram mais cedo. Eles gostam de culpar o
mais simples e banal, dizendo que o azar é culpa dessas coisas. Mas a sorte,
segundo algumas pessoas também funciona assim. Como achar um trevo de quatro
folhar, ou uma joaninha amarela sentar no seu ombro já é motivo para que as
pessoas pensem que irão ganhar na loteria. Para mim, a sorte não existe. Bom,
não existia, até hoje.
Eu cheguei
na sala antes de todos, como sempre. Eu vinha antes, para evitar os olhares das
pessoas, eu os odiava. Todos me olhando traziam de volta traumas que eu não
gostava de relembrar. Abri minha mochila e arrumei minhas coisas em cima da
mesa meticulosamente como eu sempre fazia como meu TOC obrigava. O caderno, o
bloco de notas e o estojo. Troquei os lápis de lugar as 47 vezes necessárias
para que eles parecessem certos. Limpei e desinfetei minha mesa e coloquei tudo
no lugar novamente. Então limpei a cadeira, e as pernas da mesa como o normal,
esfregando 150 vezes o pé com os lenços umedecidos e jogando-os no lado
esquerdo do lixo. Voltei ao meu lugar e me sentei esperando que todos
chegassem. O dia 11/11/2011 começou como a maioria dos outros, nada diferente,
como eu gostava.
Uma a uma
as pessoas chegaram, ouvindo música em seus headphones, ou estudando uma
matéria deixada para trás, irritantemente sujos e infectados com doenças,
vivendo suas vidinhas normais sem distúrbios de comportamento. E então entrou
Ele. Ele que era suficientemente sujo para me levar a loucura, mas era uma
mistura tão perfeita de beleza e inteligência que me fazia esquecer-me da sua
falta de higiene por alguns segundos. Ele sentou-se ao meu lado e sorriu.
-Oi Vida.
Está pronta para hoje?
-O que há
hoje, Steve?
-Como
assim? Onze de novembro! Faça um pedido! Todos estão ansiosos lá em casa.
Fiz que
sim, fingindo um sorriso forçado, com o nariz levemente torcido com o cheiro
peculiar que vinha dos seus sapatos. Ele pisara em fezes de cachorro. Que
repugnante! Fechei os olhos tentando bloquear o cheiro. Esqueça, Vida, esqueça!
O poço ficou para trás!
-Desculpe...
Eu não... Tem algo no seu tênis...
Eu disse
apontando, ainda de olhos fechados.
-Ah sim.
Perdão.
O cheiro
desapareceu por um tempo, indo com ele para algum lugar. Logo, ele voltou a se
sentar no seu lugar, o cheiro estava mais leve, quase suportável agora e pude
abrir os olhos para continuar a conversa como uma pessoa civilizada faria
apesar de não ter a menor vontade disso.
-Então, o
que vai pedir?
Ele
perguntou abrindo a mochila enquanto o professor acendia as luzes e entrava na
sala, dizendo seu bom dia como um ditador gritando as regras de seu país. Com
as luvas plásticas eu abri em uma página do caderno limpa, virando uma página
de cada vez como o TOC mandava.
-Não
acredito nessas coisas. Sorte, desejos para estralas, horas iguais. Nada disso
faz sentido para mim.
-Hum – Ele
disse, provavelmente divagando enquanto abria seu caderno cujas páginas já
foram rudemente arrancadas das espirais para fazer aviõezinhos de papel e cujas
bordas estavam gastas – Isso é triste Vida. Isso é muito triste.
Fiquei
quieta, e logo a aula começou e nossa conversa não pode continuar.
Durante a
aula de matemática, todos os 38 celulares do resto da turma tocaram em uníssono
quando deu 11:11. O professor nos deu cinco minutos para fazer nossos desejos.
Todos desligaram seus diversos toques, com um toque na tela ou no botão
direito, todos cobertos de suor e de sebo das mãos nojentas deles. Todas as
garotas se juntaram em um canto, dando as mãos e fazendo seus pedidos. Os
garotos gritavam desejos provocativos uns para os outros, e eu estava no meio
dessa confusão.
-Vida...
Steve me
chamou ao meu lado. Quando virei-me, já era tarde demais, não pude impedir.
Seus lábios já estavam nos meus, me invadindo... Completando-me. Por poucos
segundos, o mundo não existia, o poço em que meu primo implicante me empurrara
que estivera abandonado há 30 anos, cheio de musgo e animais mortos, com aquele
cheiro horrível que penetrou no meu corpo e mente me deixando doente nunca
tinha acontecido. Era só ele, eu e nada de germes, de luvas plásticas, e lenços
umedecidos, de desinfetantes, ou álcool em gel.
-Ugh...
Germes...
Eu disse
baixinho, separando nossos lábios por alguns segundos.
-Vida?
-Sim?
-Cala a
boca.
Sorri
enquanto ele se afastava e subia na mesa e gritava para a sala toda: “Vida
Corners é o meu desejo!”. E naquele momento, não me importei com seus tênis
sujos de fezes em cima do meu caderno limpo.
Eii Skitter, adorei o texto, muito fofo e realista!! Após (mais um!!) longo tempo longe da web, estou de volta, e dessa vez pra ficar!! Meu blog agora é o girlcliche.blogspot.com
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom Dia Skitter, sabe a primeira coisa que me chamou a atençao para seu blog foi a criatividade de seu nome gostei...Quanrto ao seu conto, gostei bastante...é realista e ousado e me chamou a atenção...Eu não acredito muito em supertições...mas avida tem misterios que o ser humano desconhece...Não sou muito boa com elogios, mas gosto do seu estilo de escrita
ResponderExcluirBeijos e abraços: Anny Kate
Obrigado pela dica na minha historia: doce primavera...eu ainda estou tentando me organizar no blog, porem ultimamente ando sem muito tempo, na verdade minhas historias são muito grandes, o que publico são apenas partes delas, ainda estou aprendendo a resumi-las em parte principais, mas chegarei lá e após publicar algumas proucurarei divulgar meu blog...Mas a melhor parte de tudo é que tenho a ajuda de uma garota especialista conhecida como: a maluca do blog...Bjos e abraços:Anne Kate
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