14 de ago. de 2012

O fiozinho

Eu preciso... Eu preciso... Me controlar. É isso que eu preciso. Ah, mas ele está com a namorada, não vai nem notar... Vou puxar bem rapidinho. Um, dois três... Ai, não fui! Minhas mãos começam a tremer de agonia, mas ainda assim não consigo me aproximar.
-Bia, será que dá para se aquietar? A gente já vai chegar.
E lá estávamos nós, na fila do ingresso para a Bienal. Eu até avisei para a Ju que ela tinha que comprar On-Line, mas ela não escutou, e me arrastou para aquela tortura de fila. Eu puxei ela de lado e sussurrei:
-Oh Ju, não é isso. O cara está com um fiozinho solto na camisa.
Ela deu de ombros.
-E aí?
-E aí? E aí que eu preciso tirar!
-Tirar? É só o que me faltava Fabiana! O moço tá acompanhado! E se ela acha que você está tentando ver a cueca dele?
-Não quero ver cueca nenhuma, Juliana! - Deixei claro - Eu só quero tirar o fiozinho. Se você pensar bem, vou estar fazendo um favor para ele...
-Deixa o fiozinho lá, Bia. Se você arrumar confusão, a gente vai acabar voltando para o fim da fila e eu nunca mais saio com você, viu?!
Revirei os olhos. Quanto drama... Só porque eu tinha compulsão de puxar fiozinho. E daí? Ficamos sem nos falar por um minuto e eu REALMENTE tentei não ficar olhando. Mas o tempo todo meu olhar parecia ser atraído para ele. Quando o vento batia nele, fazendo-o balançar, eu quase podia ouvi-lo dizer: "Me puxe... Me puxe... Duvido que você tenha coragem...". Puxei a Ju pela gola da camiseta, meio desesperada.
-Ju, eu preciso puxar.
-De novo com essa história, Bia?
-Você não está entendendo. Eu preciso. É uma necessidade.
-Se você não puxar? Vai acontecer algum tipo de apocalipse zumbi?
-Mas e se a mãe dele tiver dado essa camisa para ele?
-E daí?
-Daí que se esse fio enroscar em algum lugar, vai descosturar a camisa todinha! E a mãezinha dele, tadinha, vai ficar chateadíssima! Não seria bem melhor se eu desse um puxão bem rápido e acabasse logo com isso?
Ju me lançou um olhar irritado.
-Se você puxar isso aí, eu vou morder você.
Com medo dos dentes da minha melhor amiga me contive, sem nunca tirar os olhos do meu mais recente arquiinimigo, ainda balançando ali, como uma stripper de boate de fios soltos, para fios de lã solitários encontrarem o que fazer. Finalmente foi a vez do tal casal e na nossa vez eles já tinham sumido. Suspirei, aliviada que não tivesse mais aquela coisa me cutucando a mente.
Ali perto um grupo de meninos acenou para a Ju. Eram os amigos do irmão dela, que tinham pedido para que comprássemos os ingressos. A Ju entregou os ingressos para eles e me apresentou. Teve um garoto bonitinho que me deu a maior secada. Em oito, rumamos à entrada da feira. Porém, algo me surpreendeu. Na barra da camisa xadrez do garoto bonito, um fiozinho solto provocou a minha sanidade.

Skitter - A Maluca do Blog (True Story...)

2 comentários:

  1. hahahahahahahaah
    Que tortura ser viciado em puxar fios soltos. Me coloquei no lugar da protagonista, sinal de que a crônica é muito boa.
    Beijos, amor meu.

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